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As execuções de traidores pelo Hamas em Gaza

Os recentes acontecimentos em Gaza – a execução de colaboradores pelo Hamas – reacenderam um debate acalorado em mídias globais e plataformas sociais. Na sequência desses atos, emergiu um padrão familiar: comentaristas alinhados com narrativas de hasbara denunciam rapidamente os palestinos como “incivilizados”, direcionando sua indignação moral aos apoiadores palestinos por não condenarem essas execuções com o mesmo fervor. Essas acusações não são novas – elas fazem parte de uma estratégia mais ampla para deslegitimar a resistência palestina e desviar a atenção da violência desproporcional e da opressão sistemática impostas a Gaza e à população palestina em geral.

Uma breve história da traição

Em todas as guerras ao longo da história, os estados buscaram recrutar colaboradores – indivíduos dispostos a trair seu próprio lado em troca de dinheiro, poder ou sobrevivência. Da Resistência Francesa e informantes nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, às operações militares americanas no Iraque e Afeganistão, até a ocupação israelense da Palestina, a lógica permanece a mesma: a inteligência é uma arma poderosa, e a traição é seu preço. Gaza não é uma exceção. No entanto, as reações aos chamados “traidores” nesse contexto são filtradas por uma lente particularmente tóxica e hipócrita.

Uma escolha notável de traidores

Após inúmeros mensajes públicos sobre “trazer os reféns para casa” e “não deixar Gaza passar fome”, poderia se esperar que Israel tivesse priorizado encontrar aliados que pudessem ajudar na recuperação de reféns. Mas a realidade aponta para uma agenda diferente. Israel apoiou uma gangue criminosa, conhecida como “Forças Populares”, liderada por Yasser Abu Shabab. Esse grupo era responsável pelo saque de comboios de ajuda e pela revenda de alimentos no mercado negro de Gaza a preços exorbitantes. Todos em Gaza, e muitos além, sabiam que Yasser Abu Shabab foi renegado e expulso por sua própria tribo beduína, que o declarou, junto com sua gangue, fora da lei.

Isso revela uma contradição fundamental na narrativa de hasbara – proclamar preocupação com os reféns e negar o uso da fome como arma – enquanto, simultaneamente, apoia colaboradores criminosos cuja principal conquista foi roubar comida do próprio povo.

Traição e punição

Cada estado, independentemente de sua ideologia ou geografia, considera a traição um dos crimes mais graves possíveis. Em tempos de guerra, a traição ao próprio povo pode ter consequências fatais – não apenas para exércitos e governos, mas para civis cujas vidas dependem da frágil coesão de sua sociedade. Por essa razão, as leis penais e militares de quase todos os países prescrevem as penas mais severas para traidores, frequentemente incluindo prisão perpétua ou execução. A história está repleta de exemplos. Do tratamento da Europa aos colaboradores nazistas após a Segunda Guerra Mundial à execução de espiões durante a Guerra Fria, os governos sempre defenderam a santidade da lealdade com punições severas.

Mesmo entre estados que se afastaram da pena de morte, a traição ainda ocupa um lugar singular na hierarquia dos crimes – muitas vezes sendo um dos últimos crimes ainda elegíveis para a pena capital. Nos Estados Unidos, a lei federal ainda permite a execução por traição. Na Índia, Paquistão e Bangladesh, a traição e crimes relacionados, como “fazer guerra contra o estado”, permanecem crimes capitais. O mesmo se aplica a países como China, Coreia do Norte, Irã e Arábia Saudita, onde a pena de morte é regularmente imposta por acusações políticas ou relacionadas à espionagem. Mesmo em Singapura e Malásia, a traição pode legalmente levar a uma sentença de morte. Muitos governos ao redor do mundo ainda sustentam que trair o próprio país é um crime tão grave que pode justificar a punição definitiva.

E, no entanto, quando os palestinos punem colaboradores – indivíduos acusados de impedir que a ajuda humanitária chegue à população faminta – eles não são retratados como um povo que se defende, mas como multidões sem lei agindo por barbárie. Os mesmos observadores que apoiariam ou aceitariam a punição severa de um traidor em seus próprios países expressam indignação moral quando os palestinos agem para se proteger.

Lei marcial e hipocrisia

Alguns propagandistas de hasbara agora dizem que os supostos colaboradores em Gaza deveriam ter recebido um julgamento justo. É um argumento conveniente, especialmente para aqueles ansiosos por pintar os palestinos como incivilizados por reagirem à traição em meio a uma guerra. Mas isso ignora deliberadamente a realidade no terreno: não há mais um sistema judicial funcional em Gaza. Após a campanha de destruição de Israel, não há tribunais, celas de prisão, e muito provavelmente nenhum juiz ou procurador sobrevivente. Bairros inteiros foram arrasados. Ministérios, delegacias de polícia, tribunais – tudo desaparecido. As instituições que normalmente lidariam com investigações criminais e procedimentos legais foram bombardeadas até virarem pó. Em tais condições, exigir um julgamento em uma sala de tribunal não é apenas irrealista – é desonesto.

É exatamente por isso que a lei marcial existe: é uma estrutura jurídica projetada para funcionar quando a infraestrutura civil não está mais operacional. A lei marcial não é uma brecha – é o sistema de última instância quando a sociedade está em colapso. E mesmo a lei marcial, quando aplicada corretamente, inclui disposições para o devido processo, embora em uma forma militar simplificada. Pode não parecer uma sala de tribunal televisionada com advogados de terno, mas ainda é destinada a seguir as regras básicas de justiça – especialmente quando tempo, segurança e a sobrevivência da comunidade estão em jogo.

Compare isso agora com a hipocrisia flagrante do sistema israelense. Israel tem usado rotineiramente a lei militar contra os palestinos por décadas, não porque não tenha tribunais funcionais, mas porque a lei militar dá ao estado mais poder e menos limites. Crianças são arrastadas para tribunais militares. Detentos são mantidos por meses sem julgamento. Condenações são emitidas sem evidências tornadas públicas. O uso da lei marcial por Israel não é sobre necessidade – é sobre dominação e controle.

Então, quando os críticos descobrem repentinamente uma paixão pelo “devido processo” em Gaza, pergunte-se: onde estava essa preocupação quando Israel impôs a lei marcial aos civis na Cisjordânia? Onde está quando Israel demole casas palestinas sem julgamento? Quando a detenção administrativa é usada para prender pessoas indefinidamente sem acusação? Quando crianças são interrogadas sem a presença de um advogado?

Isso não é sobre justiça. É sobre indignação performativa – usar a linguagem da lei e dos direitos humanos não para proteger os vulneráveis, mas para difamar aqueles que já estão sob cerco.

Abandonados intencionalmente

Aqueles que escolhem colaborar com um inimigo normalmente exigem proteção ou evacuação quando a guerra termina. É uma regra não escrita da espionagem: aqueles que traem devem ser comprados – não apenas com dinheiro, mas com promessas de resgate. Agentes que arriscam suas vidas em território hostil raramente agem por lealdade; eles agem por medo, desespero ou oportunismo. E quase sempre esperam que seus manipuladores garantam sua segurança quando os combates cessarem.

Em Gaza, ainda não está claro se Yasser Abu Shabab e sua gangue das “Forças Populares” receberam tais garantias de Israel. No entanto, o que parece cada vez mais provável é que Israel não cumpriu sua palavra – ou que nunca existiu um acordo genuíno. Relatórios do terreno indicam que, quando o cessar-fogo entrou em vigor, esses colaboradores foram deixados expostos, sem extração ou proteção, enfrentando a ira da mesma sociedade que exploraram.

Não seria a primeira vez que um estado poderoso abandona seus proxies locais uma vez que sua utilidade se esgota. O mesmo padrão se repetiu no Afeganistão, Iraque e Vietnã, onde intérpretes, informantes e milícias que serviram a exércitos estrangeiros foram posteriormente abandonados, muitas vezes caçados por suas próprias comunidades como traidores. Para o ocupante, esses indivíduos são ferramentas de conveniência – valiosas durante a campanha, descartáveis quando o objetivo muda.

Ativos descartáveis, mortes úteis

Se Israel quisesse, poderia ter organizado extrações ou oferecido santuário, mas neste caso parece que o valor desses indivíduos era maior na morte do que na vida. Suas execuções tornaram-se úteis – não militarmente, mas narrativamente. Ao permitir que os colaboradores caíssem nas mãos do Hamas ou de milícias locais, Israel garantiu que esses homens enfrentassem o tipo de punição rápida e pública que poderia então ser transmitida como prova da selvageria palestina. Agentes de hasbara e meios de comunicação aproveitaram a oportunidade: imagens e vídeos gráficos foram compartilhados, a indignação moral foi fabricada, e uma pergunta foi feita em voz alta – “Por que os apoiadores palestinos não condenam isso?”. Isso não foi apenas abandono. Foi um sacrifício propagandístico.

A estratégia segue uma lógica familiar: retratar os palestinos como irracionais, violentos e inerentemente incapazes de sustentar valores “civilizados” como julgamentos justos e direitos humanos. Isso permite que Israel se apresente como o lado mais moral – mesmo enquanto se engaja em punições coletivas, cercos de fome e a destruição sistemática da infraestrutura de Gaza. Nesta narrativa, o colaborador não é uma pessoa. Ele é um objeto de cena, um peão e, finalmente, um mártir para uma guerra midiática na qual a brutalidade do inimigo deve estar sempre em plena exibição. Sua vida é descartável. Sua morte é capital político. O que torna essa tática particularmente eficaz é que ela inverte os papéis de vítima e vilão. Em vez de ser responsabilizado por criar as condições que levam à traição, ao caos interno e ao desespero, Israel pode apontar para as consequências inevitáveis da traição como prova de que a sociedade palestina é irredimível.

Operações psicológicas à vista

Isso não é mera especulação. Governos há muito usam operações psicológicas (psyops) para manipular a percepção pública por meio de vazamentos controlados, abandono seletivo e exploração narrativa. Da CIA ao Mossad, as agências de inteligência entendem que a guerra não é mais travada apenas no campo de batalha – ela é travada na mente, nas telas e através das manchetes.

Permitir que os colaboradores morram – e garantir que suas mortes sejam visíveis – serve a múltiplos propósitos:

Indignação seletiva na mídia ocidental

Se você seguisse a cobertura da mídia internacional mainstream sobre a guerra em Gaza, poderia pensar que a preocupação mais urgente com direitos humanos era a execução de um punhado de supostos colaboradores. Esses casos – transmitidos com imagens dramáticas, manchetes fortemente editadas e moralismo severo – dominaram segmentos em redes de notícias ocidentais, inundaram as redes sociais e alimentaram debates intermináveis sobre a suposta “barbárie” da sociedade palestina.

Enquanto isso, a morte em massa de palestinos – mais de 67.600 mortos pelas forças israelenses apenas nos últimos dois anos – é relatada com uma espécie de distanciamento burocrático. Se mencionada, aparece como uma estatística enterrada sob manchetes sobre reféns israelenses, operações militares ou “infraestrutura do Hamas”.

Essa disparidade não é apenas negligência editorial – é engenharia narrativa.

Por que a execução de 6, 10 ou mesmo 20 colaboradores gera mais manchetes do que dezenas de milhares de mortes civis? A resposta está em como a mídia internacional foi condicionada a humanizar o sofrimento israelense e criminalizar a resistência palestina, enquanto a morte palestina é considerada suspeita, acidental ou lamentavelmente “inevitável”. A morte de um palestino por um ataque de míssil israelense é relatada como um evento climático – trágico, mas impessoal. A execução de um colaborador pelos palestinos, por outro lado, é teatro moral: uma oportunidade para âncoras, comentaristas e políticos questionarem a humanidade de um povo inteiro.

Isso não é um acidente. É o resultado de décadas de desumanização, racismo e alinhamento ideológico, financeiro e político da mídia ocidental com as narrativas israelenses. O desequilíbrio na cobertura não é sobre o que é noticiável; é sobre o que serve à estrutura de poder dominante.

Sensacionalização da exceção, apagamento da norma

As execuções são perturbadoras e merecem escrutínio. Mas em Gaza, elas são a exceção, não a regra. Os ataques aéreos israelenses, por outro lado, são rotineiros, frequentemente descritos como “ataques de precisão” mesmo quando arrasam bairros inteiros. Esses ataques mataram milhares de crianças, destruíram hospitais e levaram uma população à fome e ao deslocamento em massa. No entanto, a brutalidade do assassinato industrializado apoiado pelo estado recebe menos cobertura emocional do que o desfile de um suposto traidor por uma rua devastada pela guerra.

Por quê? Porque a narrativa do colaborador serve a um propósito: ela confirma os preconceitos profundamente enraizados do Ocidente. Conta uma história reconfortante onde os palestinos são o problema, mesmo em seu próprio sofrimento. Onde o Hamas – e, por extensão, todos os palestinos – é irracional, vingativo e indigno da empatia estendida às vítimas em outros lugares.

Isso não é jornalismo – é manutenção ideológica.

Nos últimos dois anos, a história foi contada pela lente do ocupante, não dos ocupados.

Vimos como os colaboradores – ferramentas de uma força externa – foram elevados ao centro do palco enquanto as crianças enterradas em valas comuns foram tornadas invisíveis. Ouvimos a palavra “civilizado” ser usada não como um padrão de comportamento, mas como um distintivo de superioridade racial e política. Vimos apelos à justiça distorcidos em instrumentos de propaganda – não para proteger os vulneráveis, mas para aprofundar sua desumanização.

A narrativa de hasbara depende dessa inversão. Ela prospera na confusão – na crença de que os colonizados devem sempre justificar sua dor, sua raiva e até mesmo sua existência. Quando colaboradores são executados, é selvageria; quando Gaza é bombardeada, é segurança. Quando os palestinos resistem, é terrorismo; quando morrem silenciosamente, é paz. A ordem moral que condena os impotentes por sobreviver enquanto desculpa os poderosos por matar não é, de forma alguma, uma ordem moral – é um roteiro escrito pelo império, encenado pela mídia e consumido por aqueles que estão entorpecidos demais para ver seu próprio reflexo nas ruínas.

As execuções de colaboradores são um sintoma do colapso – de um mundo onde a lei e a ordem foram bombardeadas até virarem pó.

Elas não são prova da selvageria palestina, mas da selvageria imposta à Palestina.

Referências

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